DOR NA ALMA

"Creio que foi por causa da minha infância, ou melhor, do meu passado que permiti que o homem com quem casei fosse um déspota para mim. Talvez sentisse que merecia o que ele me fazia. O meu pai espancava-me quando eu era criança, com quatro ou cinco anos, a minha mãe nunca fez nada para evitar isso. Comecei a não sentir amor por aquela pessoa que devia proteger-me e amar-me e nada fazia. A minha irmã era o foco de todas as atenções e mimos, eu, o patinho feio, era o bombo da porrada e outras atrocidades. Lembro-me de, com apenas seis anos, abrir uma gaveta dum aparador com portas de vidro de correr onde se guardavam os cristais e com duas gavetas no fundo que serviam para guardar documentos, sentada no chão procurei a minha cédula. Precisava de confirmar que aqueles eram mesmo os meus pais. Na minha pequena cabecinha sentia que se não merecia o amor deles é porque certamente me teriam apanhado no caixote do lixo. Penso que foi por isso que permiti que o me...