EU E OS LOBOS

 A minha infância foi por parte do meu pai cheia de agressões físicas, a minha adolescência de agressões verbais por parte da minha mãe. Cresci com uma boa educação a nível de princípios e valores mas com pouco amor. 
Sei que os meus pais fizeram o melhor que podiam e sabiam mas eu precisava de me sentir amada. Procurei o amor que, não tinha em casa, num homem.

Casei e pensei que ia ser feliz e amada. Aquele homem ao perceber que eu não tinha ninguém decidiu agredir-me psicologicamente tirando-me o já pouco amor-próprio e auto estima, matando a minha fé e esperança no amor que eu tanto procurava.
Quando me dei conta que havia casado com um lobo com pele de cordeiro já era tarde. Não tinha ninguém com quem contar. Estava no meio dos lobos e não tinha como sair. Fui agredida fisicamente pela mãe e por um dos irmãos da pessoa com quem era casada, ele nada fez para defender-me. Ria-se e gozava com a minha cara.

O meu coração que procurava amor estava agora a encher-se de raiva, ódio, frustração, desilusão e dor, e quando já não suportava mais sofrimento comecei a procurar Deus em todas as portas.
Eu ansiava por dias de paz, de felicidade e de alegria. Dias em que pudesse ser eu mesma, dias em que pudesse viver coisas nobres e sublimes. Mas a minha vida não passava de caminhos intrincados. Ninguém para conversar ou desabafar, sentia-me perdida e prestes a ser devorada pelos lobos.

Como filha tive sempre grande dificuldade em dialogar com os meus pais. De pouco ou nada serviriam as minhas queixas para eles, sabia que não entenderiam e nenhum esforço fariam para entender. Tinha que continuar a guardar dentro de mim a tristeza que era a minha vida. Tinha que continuar a guardar dentro de mim que sofria de violência domestica. Tinha que continuar a guardar dentro do meu coração a minha infelicidade que me tornava uma pessoa amarga, perturbada e revoltada. Cada dia a esperança dentro de mim, morria um pouco.

Com a minha alma revolta, encapelada, eu enchia o meu mundo de tempestades. Como era difícil encontrar serenidade no coração se a minha mente era barulho, poluição e maremotos.
Como podia eu apaziguar a minha mente e pacificar a minha alma quando tinha que abafar maus tratos, escondendo, acobertando a minha consciência, abafando os meus problemas e erros.

Quem reage a quente atira sem fazer pontaria. Eu atirava em todas as direções, gritos de dor, palavras de mágoa e lágrimas de sofrimento.
Sabia que as pessoas como ele, não ficam livres para sempre. O Karma acaba por encontrá-las. Mas a minha alma ferida clamava por justiça e ela não chegava.




( Retirado do livro de Mary Sil)



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