O SEGREDO

“ O segredo foi uma verdadeira transformação para mim, porque cresci com um pai muito negativo.”

Jack Canfield


Também cresci com um pai negativo, não em relação ao dinheiro, mas aos maus tratos que me infligiu. Aqui a minha pergunta é: o propósito de uma alma ao encarnar não será brincar? O que atraí eu, um bebé acabado de chegar, para não ter amor, carinho, ternura, doçura e o direito a brincar? 

Não tive nada disto porque quando olharam para mim não viram um bebé lindo: 
- Temos uma menina tão feinha! - foi o que sempre ouvi que disseram quando me viram.
Era um patinho feio, não merecia o amor deles. Embora hoje saiba que o mereço, embora me ame e saiba que sou amada e desejada por outros, embora saiba que sou inteligente, criativa e talentosa, que tenho imensos amigos, que sou adorável, que as pessoas gostam de mim, sou amável e carinhosa, sei cuidar de mim, sou fantástica e mereço o melhor, ainda assim continuo a não ter o amor daqueles que cá me puseram. Porquê? 

Fui criada com regras rigorosas de perfeição e permaneci sempre num ambiente onde não me era permitido brincar. Com apenas seis anos sabia ler, escrever, sabia toda a tabuada, fazia qualquer tipo de conta e resolvia problemas. Quando alguma coisa não estava correta levava grandes tareias. Se alguma criança dos arredores chegava para brincar comigo era fechada em casa. O facto de ser escanzelada, cabelos muito negros compridos, olhos encovados dava-me um aspeto de criança esfomeada, era uma criança em sofrimento a quem nada era permitido. A minha mãe para não me dar colo dizia: "- As crianças tem que estar na cama, não se pode dar colo" - ouvi ela dizer a vida toda. Assim fez comigo e deixou-me chorar até o umbigo me rebentar. Nunca fui tratada como criança, nunca me diverti, não brinquei, diziam-me que era feia, não falavam comigo, chamavam-me burra e nunca me amaram. Aos seis anos procurei a minha cédula para verificar se era filha deles. Achava que talvez me tivessem encontrado num caixote de lixo.

Hoje tenho um neto a quem faço saber, sempre que está comigo, que o amo, que é inteligente, bonito, esperto, que é a coisa mais importante da minha vida e que tenho todo o tempo do mundo para brincar com ele, falar ou levá-lo a divertir-se. Qualquer criança precisa de ouvir isto diariamente para que não venha a tornar-se um adulto inseguro, que tem que perguntar tudo aos outros pois nunca o deixaram ter poder de decisão nem tão pouco ser criança.

(Retirado do livro de Mary Sil)



PAZ DIVINA

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