O VELHINHO DOS BÚZIOS

Sentou-se no chão, abriu um lenço entre as pernas, fechou as mãos e jogou no pano dezenas de “coisas” pequeninas; ossos, conchas, pedras, búzios, …

Caíram no lenço dispersas como estrelas, umas juntinhas outras separadas e uma ou outra isolada.

- Esta és tu, tens muita gente junto de ti. Muitos amigos, muitos conhecidos.

- Ainda vais ser feliz, vais encontrar um bom homem, vai amar-te como nunca foste amada e vai ser para toda a vida. Vais ter muito dinheiro, vais viajar pelo mundo.

Perguntei sobre tudo que me angustiava.

- Vou ter sucesso? Vou pagar todas as minhas dívidas? Algum dia os meus pais vão perceber o quanto estão enganados em relação ao homem com quem fui casada?

Voltou a juntar os objetos, e lançou-os de outra maneira.

- Vês cá estás tu!

Eu era a maior, um buzio castanho avermelhado.

- Saúde, dinheiro, vais casar, viajarás muito, cuidado não entres em hospitais e esquadras.

E mais uma vez apanhou as “coisas” e as voltou a lançar. Eu já sabia qual era eu, era aquele buzio maior de cor indefinida.

- Durarás muito, conhecerás mundo, serás sábia, nunca vais envelhecer, mas morrerás com muita idade.

- É tudo?

- Sim!

Tirei da carteira 20€ que deixei no mesmo lenço onde antes ele tinha jogado os objetos.


Porque não me deram aqueles objetos respostas mais concretas? O que será que o futuro me reserva? Está o nosso destino escrito nas estrelas? E o nosso livre arbítrio, onde fica? Cada vez fico mais confusa, mas saio dali com uma certeza: vou casar!


(Retirado do livro de Mary Sil)

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