A PÉ ATÉ FÁTIMA

Quando se aproxima o final do ano, vou ao baú de recordações rever o que há por lá que já não faça sentido na minha vida e jogar fora. É nessa altura que encontra outras coisas que me trazem saudades.

Quando comecei por fim a percorrer a caminhada em direcção a Fátima a 10 de Maio de 2013, era-me ainda difícil acreditar que tal estivesse realmente a acontecer. Depois de tudo o que se tinha passado nos dias anteriores. ( já não me lembro que acontecimentos foram esses.)
A atmosfera era  surreal, com toda aquela gente a caminhar pela noite.
Carlos Farias o guia, acompanhava o grupo na retaguarda. Soprava um vento fraco que agitava as águas límpidas e frescas da barragem (não sei em que zona do percurso.) os declives profundos do terreno escarpado, continham abundante vegetação.
Aqueles dias tinham um ritmo fixo; acordávamos às 3 horas da manhã, passávamos a cara por água, dava um ensonado "boa- noite" aos meus companheiros de percurso e lá íamos caminhando até à primeira paragem para o pequeno almoço.
A Fátima tratava da cozinha improvisada numa carrinha, era o domínio dela.
A Cidália foi uma companhia maravilhosa, auxiliando-me de várias formas. Era bom saber que tinha sempre as palavras sábias dela em resposta às minhas duvidas, e que estava sempre disposta a ouvir-me.
Recordo que senti um contentamento especial e uma curiosa sensação de desapego.
Será que nesta caminhada conseguiria descobrir algo realmente significativo?
Sentia-me já sem forças para caminhar e a minha ansiedade por saber o motivo de estar ali, crescia.
De manhã bem cedo, com o ar ainda fresco, subi lentamente e com muitas pausas aquele último percurso. Este era um dia decisivo, um ponto de viragem na minha vida. Esta data tinha que ser aquela em que a minha sorte iria mudar. (lembro-me agora que de facto assim foi.)
Naquele lugar magnifico de fé e esperança, sentindo-me demasiado fraca para prosseguir depois de um derradeiro esforço, ouvi as vozes de todas aquelas pessoas que aos meus ouvidos soava como um silencio celestial.
Tínhamos chegado a Fátima, naquele momento deixei-me vencer pela excitação, pela magia daquele momento único, e esqueci o cansaço.
Sentei-me numa rocha e fiquei a olhar a paisagem, o azul do céu e a sentir-me no paraíso a absorver o cheiro da erva fresca e do orvalho da madrugada que já havia passado havia algumas horas, mas era ainda nesse registo que os meus sentidos estavam.
Nessa primeira noite diferente ( pensava eu) em que ia dormir num saco cama de campanha, mas num colchão, imaginava-me a dormir sob um céu estrelado, ouvindo o vento a soprar e recordei outras noites em que dormia numa tenda na Serra da Estrela e ouvia soar no escuro o estranho uivar dos lobos a pouca distância e me sentia assustada, tapava a cabeça com o cobertor e aguardava que eles se afastassem. Recordava também os finais de tarde a chapinhar pela água que em pequenos riachos percorria o relvão, e onde apanhava rãs para à noite assarmos nas fogueiras as suas patinhas. Pobrezinhas, como éramos selvagens e insensíveis. E foi com esta confissão à Virgem Maria e um pedido de perdão que adormeci profundamente sem dar conta das confusões que houve a seguir e que só ao outro dia ao acordar a Cidália me contou.

Se hoje não tivesse encontrado a folha onde escrevi um pouco sobre esta caminhada, nunca teria associado a mudança da minha vida a este evento.




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